Mídia, escrava do capital

16 Maio

Palestra “Mídia e eleições de 2010” realizada  na Câmara Municipal de SP ontem (15), teve, entretanto, como enfoque principal as relações entre os meios de comunicação e a sociedade capitalista

Marcio dos Anjos

A prática jornalística, junto com os meios de comunicação, serve a que fins? Com quais finalidades (implícitas e explícitas) se trabalha uma Rede Globo, um Estadão ou outro qualquer meio tradicional brasileiro? Ademais, quais possibilidades a internet nos abre? Estas questões, que não se respondem com facilidade, foram, por isso mesmo,  postas ‘à consciência’ e discutidas na palestra (cujo nome não corresponde à discussão que de fato houve) “Mídia e eleições de 2010”, realizado ontem (15), na Câmara Municipal de São Paulo (CMSP), sob organização do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé (http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/a-midia-alternativa-e-o-barao-de-itarare/view e http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/midia-7/jornalistas-e-liderancas-sociais-lancam-o-centro-barao-de-itarare-4527.html).

Na primeira parte do evento (iniciado na sexta-feira, no Sindicato dos Engenheiros), das 09:00 às 13:00, palestraram o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marcos Dantas, e o jornalista do Movimento Sem Terra (MST) Igor Felipe.

Dantas iniciou o debate afirmando que “os meios de comunicação funcionam como uma fábrica, só que de modo diferente, porque produz, em vez de bens materiais, ideologias com finalidades obviamente lucrativas e manutenção da sociedade capitalista”. E nesse sentido, como que num processo de escravização de si mesmo, ele acrescenta que “para a mídia não interessa mudar esta situação”.

Mas e a internet? Dantas não vacila em dizer que a internet está modificando certas práticas e abre novas possibilidades, mas se hoje nós temos um estímulo de aceso a internet, quem está estimulando isso é, sobretudo, o capital. E questiona, alertando para atuação do capital volátil, ao qual a internet não está livre. “Que sociedade é essa que sai da televisão e vai para o Yahoo?”. Dantas alerta que “se não tivermos visão crítica, vai acontecer o mesmo que aconteceu com o rádio e a televisão lá atrás”.

E por fim ele indica, que “a saída é criar canais alternativos (internet, rádio, jornal, TV), porque a democratização da sociedade não se dará pela grande mídia”.

É o que Igor Felipe faz. Em sua argumentação, ele ressaltou que “quando falamos de democratização da sociedade, estamos falando também da democratização das mídias”. Felipe está de acordo com Dantas e afirma que “a grande imprensa está ligada aos interesses do capital”. Ele diz ainda que grandes grupos de comunicação (Estadão, Abril), estão ligados à Associação Brasileira de Agronegócio (ABAG) (http://abag.technoplanet.com.br/site/item.asp?c=219) E, se o capital se reproduz na comunicação, para ele o mesmo ocorrerá entre a grande mídia e a internet. “Dos cem maiores sites brasileiros, a maioria deles reproduzem a lógica da grande mídia” http://galaxy.intercom.org.br:8180/dspace/bitstream/1904/17292/1/R0562-2.pdf )

O que não significa, para ele, fugir da internet, até porque “é para onde nós podemos correr, apesar de ainda existir nela uma fragmentação muito forte dos movimentos contra-hegemônicos”.

Das 14h30min às 17h00min, segunda parte da reunião, estiveram presentes o secretário executivo da Secretaria de Comunicação do Governo Federal (Secom-GF), Antônio Fernandes, a ex-sercretária da Cultura do nunicípio do Rio de Janeiro, Jandira Feghali, bem como o presidente da Associação Brasileira de Rádiodifusão Comunitária (Abraço), José Soter.

Antônio Fernandes iniciou dizendo que deixar de se relacionar só da grande mídia (publicidade, entrevistas) foi a principal preocupação da secretaria. “Nós procuramos atender com mais força a mídia independente”. E complementa. “Nós não podemos desconhecer esse público que está entrando na cidadania”.

Além disso Fernandes, ao falar da TV Brasil (http://www.tvbrasil.org.br/ ) – que, “é pública e não estatal” –  lamenta. “O pessoal compara a BBC com a TV Brasil, mas isso é complicado, porque a BBC tem mais de 70 anos”. Segundo Fernandes, “o modelo de concessão para televisão que nós temos hoje está absolutamente ultrapassado”. Por fim, ele afirma: “eu acho errado a delimitação da Internet”. (http://culturadigital.br/marcocivil/).

Jandira Feghali, que – em ‘slides’ evidenciava as algumas seis famílias que detém a televisão aberta no Brasil (http://donosdamidia.com.br/grupos) – concorda. Para ela, a discussão sobre a televisão deve ser uma discussão, principalmente, de conteúdo. Por isso, ela ressalta a necessidade de regulamentação da programação. “A Europa e os EUA regulamenta, agora, quando se fala sobre isso aqui a mídia distorce dizendo que é censura da liberdade de expressão”, afirma. “O mercado é excludente”, argumenta ainda.  “A gente precisa, então, ter coragem política e garantir, por meio da regulamentação da TV que garanta a regionalização, a diversidade cultural e a produção independente”, completa.

O presidente da Abraço (http://www.abraconacional.hpg.ig.com.br/ ), José Soter, completando a discussão, relatou que as rádios comunitárias no Brasil estão com dificuldades para se manterem em atividade. “Tem rádio sendo perseguida, sendo fechada”, coloca. Ele ainda rebateu as afirmações de Fernandes e contrapôs dizendo que “os bilhões que tem vai para a grande mídia, e nós não recebemos quase nada”. Por fim, Soter colocou que “o meio comercial tem produtos; a mídia comunitária tem a difusão da cidadania e da consciência crítica”. “A rádio comunitária é a voz e também os ouvidos, porque os produtores são os segmentos da comunidade”

Para o evento, estariam presentes as deputadas federais Luiza Erondina (PSB-SP), e Manuela Dávila (PC do B-RS), mas elas não conseguiram chegar a tempo.

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